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9 de jan. de 2012

O BATISMO DE JESUS – VÁRIAS HOMILIAS


 

 

O batismo de Jesus é o ponto inicial do evangelho e dos evangelhos. A palavra grega evangelho significa boa notícia. Daí veio o título dado aos quatro livros que nos apresentam as diferentes faces de Jesus. É o ponto inicial dos evangelhos porque foi por aí que começou o Evangelho segundo Marcos, o primeiro dos quatro, dando a entender que a pregação do Batista era o "começo da boa notícia do Messias Jesus".

É o ponto inicial do evangelho porque a "boa notícia do Messias Jesus" ou "do reinado de Deus" tem início ou começa a se divulgar a partir do momento em que Jesus se faz discípulo do Batista. Se, no contexto do império romano, evangelho era a "boa" notícia da chegada do imperador ou do reinado de Roma a determinado lugar, agora significa a boa notícia da chegada de Jesus e do reinado de Deus.

Hoje sofremos com o reinado do dinheiro e da competição. Ai dos vencidos, dos incompetentes. Até a natureza vai sendo arrasada pela cobiça. O reinado de Deus é boa notícia porque é diferente, é outra coisa, aponta em outra direção. É o reinado da vida, da alegria de servir e dar a vida em favor de todos; é o reinado da mesa universal de irmãos, a qual celebramos na eucaristia.

1º leitura (Is. 42,1 - 4.6 - 7)

No episódio do batismo de Jesus, a descida do Espírito Santo e a voz do céu lembram este poema do livro de Isaías. Isso quer dizer que Jesus veio realizar plenamente o que vamos ouvir na 1ª leitura.

É o primeiro de quatro poemas que se encontram na segunda parte do livro de Isaías e cantam um servo do Senhor que, com sua maneira de agir, une o povo de Deus e se torna luz para todas as nações. Ele é humilhado, massacrado, mas vence pela resistência. Ao final, no quarto poema, seus opressores reconhecem que ele estava certo e eles errados. (Esses poemas ou cânticos podem ser encontrados em Is. 42,1 - 7; Is. 49,1 - 6; 50,4 - 9; 52,13 – 53,12.)

O texto de hoje é o poema que anuncia a vocação do Servo do Senhor. Ele é o escolhido, o querido, alegria do coração de Deus. O SENHOR faz descer sobre ele o seu espírito para que ele leve o direito a todas as nações, a partir da sua terra, o país de Judá, até as ilhas ou continentes mais distantes.

Sua maneira de agir é coerente com sua mensagem; para ele, o método é o conteúdo. "Não grita, não levanta a voz, lá fora, na rua, ninguém escuta o que ele está dizendo". Não oprime o mais fraco, "não quebra o ramo já machucado nem apaga o pavio já fraco de chama. Fielmente promoverá o que é de direito, sem amolecer e sem oprimir".

O Senhor o encarregou de promover a união, a aliança do seu povo, e ser luz para as nações (v. 6)

Os outros poemas vão dizer que ele é fiel a Deus, todo dia e o dia todo atento à sua palavra. Que encara a violência sem fazer violência, é coerente e tem a certeza de que, nas piores situações, Deus está do seu lado. Ele sofre, sofre terrivelmente, mas resiste, não se deixa abater, não perde a coragem nem desiste de sua missão. Por fim, os opressores, os mesmos que o fizeram sofrer e o consideravam o lixo da sociedade, reconhecem que ele estava certo e eles errados. Esse é o projeto de Deus.

O quarto poema ainda diz que, pelo caminho da coerência e da resistência, o Servo Sofredor, perseguido por ser justo, há de fazer que as multidões se tornem justas. Ninguém como Jesus preenche essas palavras.

Salmo 28(29),1 - 4.9 - 10

O salmo canta a grandeza de Deus na tempestade. Aqui celebra sua manifestação no Batismo de Jesus.

2º leitura (At. 10,34 - 38)

A leitura resume as primeiras pregações dos apóstolos. A trajetória missionária de Jesus começa quando, companheiro dos pobres e dos pecadores, ele se faz batizar por João. O batismo de João não é só o início dos livros dos evangelhos, mas também marca o começo da chamada "vida pública" de Jesus, o evangelho, a boa notícia do reinado de Deus.

O livro dos Atos dos Apóstolos faz de Pedro o primeiro a levar a boa notícia de Jesus como Messias aos que não eram do povo judeu. Pedro está na casa de Cornélio, um oficial do exército romano na Judeia. Beneficiado por uma intervenção especial de Deus, que, por meio de uma visão, o orientou a procurar Pedro, Cornélio tinha mandado pedir que o apóstolo viesse à sua casa. Ele e seus dependentes estão prontos para ouvir a mensagem do evangelho.

Pedro fala: o começo de tudo foi o batismo de João. A partir daí, ungido por Deus com o Espírito Santo, Jesus passou fazendo o bem a todos os sofredores (todos os sofrimentos eram então atribuídos ao diabo, o inimigo do reinado de Deus). Deus estava com ele. O início do evangelho, a verdadeira boa notícia, foi o batismo de João.

Evangelho (Lc. 3,15 - 16.21 - 22)

O evangelho nos diz que Jesus começou por baixo, fazendo-se discípulo de João.

A versão do Evangelho segundo Lucas, que lemos ou ouvimos hoje, começa com uma alusão ao batismo de toda a gente. Jesus se fez batizar como tantos que iam a João, reconhecendo seus pecados e tornando-se seus discípulos. O entrar e sair da água significava o começo de uma vida nova. Na água eram sepultados os pecados do passado e o subir do rio significava o começo de nova vida como discípulo do Batista.

Segundo Marcos e Mateus, também Jesus vem à procura do batismo de João; como diz uma oração do Ritual do Batismo, vem "solidário com os pobres e pecadores". Até então, é apenas mais um que se faz batizar por João. Quando Jesus sobe do rio, porém, ocorrem outros acontecimentos significativos.

Lucas, como é do seu feitio, mostra Jesus em oração. Todos estavam se apresentando ao batismo. Depois de batizado, Jesus se põe a orar, momento em que os céus se abrem.

Zacarias era considerado o último profeta; depois dele teria se encerrado a profecia. Deus não falava mais, o céu estava fechado. O que se podia fazer, então, era apenas seguir o que diziam aqueles que conheciam a Lei de Deus e a explicavam – os escribas ou mestres da Lei de Deus. Tudo estava previsto, nada de novo podia ou devia acontecer.

Agora o céu se abre novamente, o que significa que Deus volta a falar. Jesus é o missionário do Pai, aquele que vem trazer novas revelações de Deus. Ele é um novo profeta, uma fala nova de Deus; traz na sua pessoa a mensagem de Deus para hoje, um recado diferente, novo e atual. Chega de submissão cega aos que se apoderaram da palavra de Deus! Deus abre a boca novamente: de agora em diante, vai falar por meio de Jesus.

Abrindo-se o céu, o Espírito, segundo Marcos, o Espírito de Deus, segundo Mateus, o Espírito Santo, segundo Lucas, desce sobre Jesus. É o Espírito que falou pelos profetas, que ungiu os profetas.

Nesse mesmo Evangelho de Lucas, em sua homilia programática na sinagoga de Nazaré, Jesus vai aplicar a si o texto de Isaías: "O Espírito do Senhor está em mim, ele me ungiu para eu anunciar a boa-nova...". Se Deus agora fala, Jesus é o seu profeta, animado pelo seu Espírito.

Lucas diz que o Espírito Santo desceu "em forma corporal de pomba". Na história de Noé, a pomba que volta à arca com um ramo de oliveira no bico é sinal de paz, de que o dilúvio terminou e novamente a vida é possível na terra. Na tradição judaica, porém, a pomba é também símbolo da shekiná, a morada, a presença de Deus. É, sem dúvida, o que ela aqui significa. Reforça a ideia do Espírito de Deus que desce sobre Jesus.

Com a descida do Espírito, a voz vinda do céu: "Tu és o meu Filho amado, em ti está a minha alegria" acentua mais ainda a ligação do episódio com o texto do livro de Isaías lido na 1ª leitura. Ali se diz: "É o meu escolhido, alegria do meu coração, eu pus nele o meu espírito, ele vai levar o direito às nações". Tudo aponta para Jesus como aquele Servo de Javé ou do SENHOR de cuja vocação e missão falam os quatro poemas.

O primeiro poema, 1ª leitura de hoje, já diz praticamente tudo; como já comentamos, fala da vocação, da missão e da maneira de agir do Servo. Sua missão é dupla: unir o povo de Deus e iluminar todas as nações, implantar o direito no país de modo que as ilhas distantes aguardem suas instruções. Tudo isso está sendo dito agora de Jesus no evangelho.

www.paulus.com.br

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http://www.padrefelix.com.br/imagens/batismo_jesus5.jpg1º leitura: Isaías 42,1 - 4.6 - 7

EIS O MEU SERVO, A QUEM DEDICO TODA A AFEIÇÃO

Este é o primeiro canto do Servo de Javé, um texto que surgiu no exílio. É uma figura carismática difícil de ser identificada do ponto de vista histórico. Este personagem misterioso, o Servo ungido por Javé, é apresentado pela primeira vez em toda a literatura.

Este personagem possui alguns atributos e uma missão. Possui o Espírito de Deus, assemelhando-se aos juizes do passado, aos líderes libertadores, que eram considerados pelo povo como agindo com o Espírito de Javé. Tem como tarefa o direito das nações, isto é, a missão de realizar o projeto de Deus, e é um intérprete desse projeto. Portanto, a tarefa deste Servo é levar o direito às nações (v.1b), missão semelhante à dos sacerdotes a serviço de Deus. O direito lembra a Lei que contém o plano de Deus. O Servo será o porta-voz, isto é, deverá interpretar como um profeta o projeto de Deus para o povo.

Por ser assim, o Servo se parece com Moisés, pois terá que renovar a Aliança feita com Israel e reconduzir os exilados para a sua pátria, estabelecendo a verdadeira religião. Por isso, o autor serviu-se da terminologia própria da criação para descrevê-lo: "Eu te formei...", como o primeiro homem, pois este Servo começará um mundo novo, uma nova criação, na qual os cegos (os pagãos) abrirão os olhos e os prisioneiros (israelitas) serão libertados.

O Servo terá o caráter de um homem de paz (v.2) e será semelhante a Davi devido a suas lutas constantes em defesa do povo (v.4).

Como este Servo vai servir? Não como os poderosos, pois ele não gritará, não quebrará o caniço rachado, não apagará a mecha que ainda fumega... (v.2). O caniço rachado e a mecha que ainda fumega lembram a situação do povo que, apesar do sofrimento e das injustiças que padece, ainda tem um fio de esperança. O Servo não consolidará o projeto de Deus massacrando o povo, enganando-o com promessas e propagandas ilusórias. Ao contrário, estabelecerá uma Aliança com o povo, fazendo-o voltar a Javé, tornando-o luz das nações, criando dimensões de justiça, levando o direito, isto é, o Mishpat, que não é uma legislação imposta externamente, mas a capacidade de discernir e fazer o que é justo. Por isso, o texto especifica a obra messiânica de Jesus, e a tradição cristã o interpretou na pessoa e na obra de Jesus. É, portanto, uma interpretação cristológica, embora haja outras três hipóteses de interpretação:

01) Identificação com o povo de Israel (interpretação coletiva).

02) Identificação com um personagem histórico (interpretação individual).

03) Identificação com Israel escatológico (interpretação coletiva individual), conforme a concepção semita da personalidade incorporante.

2º leitura: Atos dos Apóstolos 10,34 - 38

DEUS UNGIU JESUS DE NAZARÉ COM O ESPÍRITO SANTO

Este capítulo fala do contato do cristão com os pagãos, que a legislação judaica proibia, sob pena de se tornar impuro. Pedro foi o primeiro a romper com esse esquema elitista e marginalizador ao hospedar-se primeiro na casa de um curtidor de couros chamado Simão, tido como pessoa impura pelos judeus devido à sua profissão, e em seguida na casa do centurião Cornélio em Cesaréia Marítima, onde falou com os pagãos, rompendo o esquema opressor e ressaltando o novo modo de viver no Senhor.

Cornélio era um militar romano, e Pedro fez um discurso em sua casa dizendo que Deus não faz acepção de pessoas, pois o povo de Deus não está ligado a uma raça ou nação. Pedro destacou que a dimensão universal da salvação foi conseguida mediante Jesus (v.36): ele derrubou o muro da separação entre dois povos e fez deles um só povo.

Evangelho: Lucas 3,15 - 16.21 - 22

BATISMO DE JESUS

O evangelho nos diz que Jesus começou por baixo, fazendo-se discípulo de João.

A versão do Evangelho segundo Lucas, que lemos ou ouvimos hoje, começa com uma alusão ao batismo de toda a gente. Jesus se fez batizar como tantos que iam a João, reconhecendo seus pecados e tornando-se seus discípulos. O entrar e sair da água significava o começo de uma vida nova. Na água eram sepultados os pecados do passado e o subir do rio significava o começo de nova vida como discípulo do Batista.

Segundo Marcos e Mateus, também Jesus vem à procura do batismo de João; como diz uma oração do Ritual do Batismo, vem "solidário com os pobres e pecadores". Até então, é apenas mais um que se faz batizar por João. Quando Jesus sobe do rio, porém, ocorrem outros acontecimentos significativos.

Lucas, como é do seu feitio, mostra Jesus em oração. Todos estavam se apresentando ao batismo. Depois de batizado, Jesus se põe a orar, momento em que os céus se abrem.

Zacarias era considerado o último profeta; depois dele teria se encerrado a profecia. Deus não falava mais, o céu estava fechado. O que se podia fazer, então, era apenas seguir o que diziam aqueles que conheciam a Lei de Deus e a explicavam – os escribas ou mestres da Lei de Deus. Tudo estava previsto, nada de novo podia ou devia acontecer.

Agora o céu se abre novamente, o que significa que Deus volta a falar. Jesus é o missionário do Pai, aquele que vem trazer novas revelações de Deus. Ele é um novo profeta, uma fala nova de Deus; traz na sua pessoa a mensagem de Deus para hoje, um recado diferente, novo e atual. Chega de submissão cega aos que se apoderaram da palavra de Deus! Deus abre a boca novamente: de agora em diante, vai falar por meio de Jesus.

Abrindo-se o céu, o Espírito, segundo Marcos, o Espírito de Deus, segundo Mateus, o Espírito Santo, segundo Lucas, desce sobre Jesus. É o Espírito que falou pelos profetas, que ungiu os profetas.

Nesse mesmo Evangelho de Lucas, em sua homilia programática na sinagoga de Nazaré, Jesus vai aplicar a si o texto de Isaías: "O Espírito do Senhor está em mim, ele me ungiu para eu anunciar a boa-nova...". Se Deus agora fala, Jesus é o seu profeta, animado pelo seu Espírito.

Lucas diz que o Espírito Santo desceu "em forma corporal de pomba". Na história de Noé, a pomba que volta à arca com um ramo de oliveira no bico é sinal de paz, de que o dilúvio terminou e novamente a vida é possível na terra. Na tradição judaica, porém, a pomba é também símbolo da "shekiná", a morada, a presença de Deus. É, sem dúvida, o que ela aqui significa. Reforça a ideia do Espírito de Deus que desce sobre Jesus.

Com a descida do Espírito, a voz vinda do céu: "Tu és o meu Filho amado, em ti está a minha alegria" acentua mais ainda a ligação do episódio com o texto do livro de Isaías lido na 1ª leitura. Ali se diz: "É o meu escolhido, alegria do meu coração, eu pus nele o meu espírito, ele vai levar o direito às nações". Tudo aponta para Jesus como aquele Servo de Javé ou do SENHOR de cuja vocação e missão falam os quatro poemas.

REFLEXÃO

A festa do Batismo de Jesus encerra o tempo do Natal e abre o tempo de reflexão sobre o ministério público de Jesus. O mesmo Espírito que estava presente no início da criação agora está presente no Jordão para dar início à nova criação, isto é, à redenção.

Esta festa era celebrada no Oriente junto com a Epifania. Para os orientais, só a partir do Batismo de Jesus a divindade se uniu à sua humanidade. Assim, era possível dizer que no Batismo o verdadeiro e completo Jesus havia nascido. Com a reforma da liturgia em 1969, a festa do Batismo de Jesus foi estabelecida e fixada no domingo depois da Epifania.

Santo Agostinho dizia que no Novo Testamento está escondido o Antigo Testamento e o Antigo Testamento, por sua vez, torna-se claro no Novo Testamento. Por isso, a liturgia de hoje nos introduz nesta festa com um texto de Isaías, o qual, depois de ter anunciado ao povo no exílio uma esperança com uma vida liberta na terra prometida, anuncia a era messiânica, apontando o Messias como Servo de Javé, no qual Javé se compraz e põe o seu Espírito. Com isso estabelece a justiça, fazendo-o luz das nações e salvação para o povo fechado no pecado.

Jesus tinha cerca de 30 anos quando iniciou o seu ministério, depois de viver em Nazaré como carpinteiro. Deixou tudo (família, trabalho...) para ir até o rio Jordão, onde foi batizado. João Batista, filho de Zacarias e Isabel, foi previsto como precursor para preparar os caminhos de Jesus e, depois de viver a sua juventude no silêncio e na comunhão com Deus no deserto, foi encontrar-se com o povo às margens do Jordão, anunciando que o Messias estava para chegar e era preciso converter-se.

Por que o Jordão? Porque através do Jordão, em cujas águas o povo passou, ingressou a arca da Aliança e Josué introduziu o povo na terra prometida, e agora, ainda através do Jordão, terá início a libertação dos pecados e a introdução no Reino messiânico, do qual a terra prometida era apenas uma figura profética.

João Batista tinha consciência de que o seu Batismo de conversão dos pecados era apenas um prenúncio do Batismo do Messias. Por isso pregava com honestidade que depois dele viria alguém mais forte que ele, de quem não era digno de desamarrar as sandálias. Entretanto, diante de João Batista desfilava uma multidão de pecadores arrependidos e desejosos do seu Batismo, mas, quando Jesus chegou para ser batizado, achou que não podia submetê-lo a um rito ao qual eram submetidos os pecadores. Por isso, ele o contesta: "Eu preciso ser batizado por Ti e Tu vens a mim?". Mas, Jesus respondeu-lhe que era preciso cumprir toda a justiça, isto é, tudo aquilo que o Pai desejava para concretizar o plano de salvação dos homens, tomar sobre si os nossos pecados para expiá-los na cruz. Por isso, Jesus pede a João Batista que o imirja nas águas do Jordão, lugar onde simbolicamente os pecados eram descarregados, para fazê-los seus e expiá-los.

João Batista atendeu ao pedido de Jesus e o batizou enquanto os céus se abriam, o Espírito Santo pousava sobre Ele e uma voz dizia: "Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer". Esta teofania solene será explicada mais tarde pelo próprio João Batista em João 1,29 - 34, ao apresentá-lo como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, pois o Espírito Santo que Jesus recebeu O consagrou como vítima de expiação, como o cordeiro sacrificado na noite da Páscoa, que era o sinal de libertação da escravidão do Egito.

João Batista afirma que viu e dá testemunho de que Jesus é o Filho de Deus e o Espírito Santo desceu do céu sobre ele em forma de pomba. Ele não é apenas um homem extraordinário, mas o Filho de Deus. Com o Batismo de Jesus, "as portas dos céus se abriram", isto é, as portas dos céus, que estavam fechadas devido ao pecado de Adão, se reabriram porque o Filho de Deus expiou os pecados e por isso Jesus pôde dizer ao bom ladrão na cruz: "Hoje mesmo você estará comigo nos céus". Por isso, Tomás de Aquino disse: "Cristo não foi batizado para ser purificado, mas para purificar". E Tertuliano afirma: "Ele santificou a água com o seu Batismo".

Portanto, o Batismo de Jesus é imprescindível para o anúncio do Evangelho. Sem ele o mistério da cruz seria incompreensível. Por isso Pedro, ao escolher o substituto de Judas no colégio apostólico, colocou como condição que fosse alguém que "viveu no meio de nós desde o Batismo de João Batista". O mesmo Pedro em Atos dos Apóstolos 10, quando pregava o Evangelho na casa de Cornélio, começou do seguinte modo: "Desde o Batismo pregado por João Batista", isto é, quando Deus consagrou Jesus de Nazaré na força do Espírito Santo. Foi no Batismo que Jesus recebeu oficialmente a unção-consagração do Espírito Santo, tornando-se o Messias para sempre. Ao falar da importância do Batismo, Gregório Nazianzeno diz: "Descemos ao sepulcro junto com Cristo por meio do Batismo, de modo que podemos ressuscitar junto com Ele. Descemos com Ele para podermos subir com Ele, tornamos a subir com Ele para poder ser glorificados por Ele".

Os textos da liturgia evidenciam a missão de Jesus e o testemunho e a predileção do Pai por Ele. A voz do Pai que confirma a sua complacência pelo Filho tem o seu prenúncio no primeiro dos quatro cânticos do Servo de Deus (1ª leitura), que descreve por antecipação a figura do Messias. Ele será caminho para os doentes, compaixão para os pecadores, mestre de justiça e santidade. Será o salvador, o libertador, o tipo absoluto do homem novo, o sol que iluminará a todos.

Jesus é ungido pelo Espírito Santo e recebe a investidura oficial messiânica. Será o Cristo Sacerdote-Profeta-Rei e, em vista dessa tríplice função, tirará os homens do pecado e os fará tomar parte no seu Reino.

O Batismo de Jesus no Jordão fazia parte da sua obra redentora. É um evento lembrado pelos evangelistas. Era, portanto, objeto da pregação apostólica.

O relato do Batismo de Jesus é confirmado pelos Sinóticos, menos por João, que o supõe (João 1,29-34). Os Sinóticos construíram um relato no gênero literário Midrash Magadico, utilizando teofanias para dar realce à fé cristológica das primeiras comunidades cristãs, que viam esse fato salvífico da vida de Cristo à luz da revelação pascal.

Batizar na água não era uma invenção de João Batista. Os judeus piedosos já tinham esse rito de purificação e ele era particularmente importante entre os essênios de Qumran às margens do mar Morto, que o usavam como sinal do compromisso de servir a Deus com fidelidade plena. Os prosélitos que se incorporavam à religião judaica também passavam por um ritual de Batismo. A originalidade do Batismo de João Batista era a sua intenção penitencial e o fato de ser anúncio do Batismo cristão. Além do mais, quase todas as religiões tinham um rito batismal, basta lembrar que entre os índios Nahua do México, assim como entre os maias, havia ritos semelhantes antes da evangelização.

O Batismo cristão não é um peso, mas um dom, uma predileção de Deus, uma vocação. Deus começa o seu diálogo conosco não fazendo imposições, mas nos amando e nos oferecendo a sua graça mediante o seu Filho. Este dom de amor deve fazer surgir em nós uma resposta de gratidão através do nosso amor a Deus e aos irmãos.

Santo Agostinho diz que Jesus quis ser batizado "para proclamar com a sua humildade o que para nós era uma necessidade". Com o Batismo nos é comunicada a dignidade mais alta do cristão, a de ser filhos de Deus. Com o Batismo nascemos para uma vida nova, a vida de filhos de Deus e herdeiros de Deus.

padre José Antonio Bertolin, OSJ

 

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O Evangelho deste domingo está relacionado ao batismo de Jesus, que marca o início de sua missão no meio do povo. Jesus foi batizado por João Batista assumindo a sua missão como Filho de Deus. Ele é o enviado do Pai, ungido com o Espírito Santo para aliviar as dores do seu povo e ser testemunho da graça de Deus para todos.

Hoje, a Palavra do Pai fala também para cada um de nós: "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo". Somos batizados em Jesus Cristo, ungidos com seu Espírito para continuar a missão dEle no mundo. Ele andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio, porque Deus estava com Ele.

Neste sentido Isaías descreve a vocação profética do servo de Javé. A missão de não quebrar a cana rachada, mas de manter acesa a pequena luz que teima luzir no meio das grandes dificuldades que o povo passa.

Revivemos hoje nossa consagração batismal, quando fomos mergulhados nas águas portadoras do Espírito que nos faz filhos amados do Pai, firmados no seguimento de Jesus e na vocação de ser luz das nações e anunciadores da boa-nova do Reino.

João Batista aguardava alguém mais forte do que ele, alguém de quem dizia: "nem sou digno de me abaixar para desamarrar suas sandálias". E veio alguém de Nazaré da Galiléia, chamado Jesus, para se fazer batizar. João batizava pecadores, chamando-os à penitência. E Jesus se pôs na fila dos pecadores, para receber com eles o batismo.

João sabia que seu batismo era apenas um apelo à conversão. Jesus sabe que seu batismo é a vinda do Espírito. O Espírito que desce significa que a missão do Filho é tornar os homens seus irmãos, participantes da vida divina.

O batismo de Jesus é um chamado para todos os seus discípulos a seguí-lo.

Todos os que foram batizados estão unidos, enxertados em Cristo. Por isso, estamos unidos por um vínculo mais forte do que as divisões humanas que nos separam ainda hoje.

Essas divisões são um escândalo. O batismo é laço de união de todos os cristãos.

O Papa, na carta sobre o "Advento do Terceiro Milênio", pede "um esforço enorme" para superar as divisões, "se não totalmente unidos, pelo menos muito mais próximos".

Por isso, é compromisso de todos nós respeitar o Batismo e reconhecê-lo como um grande dom de Deus que nos une e nos chama a caminhar com todo o empenho em direção a uma unidade sempre mais plena, a unidade desejada por Cristo.

www.diocesedesaomateus.org.br

 

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http://www.padrefelix.com.br/imagens/batismo_jesus16.jpgBatismo de Jesus

A liturgia de hoje nos apresenta o início da vida pública de Jesus. Tudo começa com o Batismo de Jesus, cuja festa hoje celebramos.

A 1ª leitura fala de um misterioso "Servo" escolhido por Deus e enviado aos homens para instaurar um mundo de justiça e de paz. (Is. 42,1 - 4.6 - 7)

A 2ª leitura narra o Batismo de Cornélio. (At. 10,34 - 38) Pedro dá seu testemunho e catequese na casa de Cornélio e no final batiza toda a sua família. Cornélio é o primeiro pagão a ser admitido ao cristianismo por um apóstolo.

No Evangelho temos o Batismo de Jesus. Jesus aparece como o Filho enviado pelo Pai, sobre quem repousa o Espírito, e cuja missão é realizar a libertação dos homens. (Lc. 3,15 - 16.21 - 22)

O Batismo de Jesus foi acompanhado de 3 fato (não é crônica):

- "Os céus se abriram...": Deus encerrou o seu silêncio... abriu seu coração e voltou a ser amigo dos homens: é o momento da reconciliação entre o céu e a terra, entre Deus e os homens...

- "O Espírito Santo desceu sob a forma de pomba": relembra o dilúvio... quando o céu estava fechado... e a pomba com o raminho de oliveira foi o sinal de que a paz havia sido restabelecida...

- "Ouviu-se uma voz do céu...": há 300 anos o povo não ouvia a voz de Deus pelos profetas...

Ao enviar o  Espírito sobre Jesus, Deus voltou a falar com os homens... Era a Trindade presente... comemorando o grande acontecimento.

+ Jesus precisava receber o batismo?

É claro que não. João até não queria batizar Jesus: mas Jesus queria mostrar que a sua atividade, que estava iniciando, seria a continuação daquilo que João Batista já estava anunciando... Basta comparar os sermões de João Batista e os primeiros de Jesus Cristo: são idênticos...

* O Batismo de João: não era sacramento... (foram instituídos por Jesus).

Era um rito de iniciação à comunidade messiânica: renunciava ao pecado, convertia-se a uma vida nova e passava a integrar a comunidade do Messias. Era uma antecipação do batismo cristão, na "água e no Espírito".

+ O que significa o batismo para nós?

Talvez saibamos da importância e da necessidade do batismo:

- A Nicodemos, Jesus afirma: "Só se salvará quem renascer..."

- Na Ascensão, recomenda: "Ide... Batizai..."

- São Paulo resumia as obrigações e esperanças dos cristãos: "Pelo batismo, fomos adotados filhos"

Sabemos o que realiza na pessoa:

- Lava a mancha do pecado original...

- Dá uma vida nova...

- Nos torna membros do Povo de Deus e da Igreja...

- Nos torna Filhos de Deus e herdeiros do céu.

Sabemos que é um compromisso de servir a Deus com fidelidade. Sabemos que tudo isso se realiza através de sinais:

- de palavras e gestos escolhidos por Deus

- de pessoas escolhidas por Deus (na Igreja)

Sabemos muitas coisas... Mas o que o batismo realmente representa em nossa vida?

Olhando o nosso Brasil: a grande maioria é batizada... Quase todos fazem questão de batizar os filhos... Para ser cristão, basta apenas receber o batismo?

Ninguém duvida do valor e da eficácia do batismo dado às crianças, mas a Igreja se pergunta: "Será oportuno batizar as crianças se os pais não praticam, não vivem o seu batismo?" O que importa não é marcar a data do batismo, mas percorrer um caminho de fé.

Realmente para muitos: é apenas 1a eucaristia, alguns sacramentos, de vez em quando... mas não passa disso... Ser cristão: é muito mais do que uma cerimônia religiosa. O batismo nos tornou cristãos: seguidores de Cristo. Para isso precisa:

- Conhecer: estudar... ler... cursos... (catequese permanente)

- Viver: o amor, o perdão, a fraternidade...

- Anunciar: pela palavra, pela oração, pela ação...

- Ser membros do grupo de Cristo  (numa comunidade)

+ "Este é o meu filho amado."

Essa maravilha se renovou com cada um de nós, quando fomos batizados. Ele só espera que conservemos essa vida divina que ele nos infundiu, que vivamos o nosso batismo.

Continuemos a celebração, agradecendo o grande dom do nosso batismo e pedindo forças para sermos fiéis a esse compromisso assumido.

padre Antônio Geraldo Dalla Costa

 

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1ª leitura - Is. 42,1 - 4.6 - 7

Este é o 1º dos 4 cantos de um personagem misterioso que aparece no livro do profeta Isaías. Isaías apresenta 4 cantos do "Servo de Javé".

              1º) Is. 42,1 - 9;            2º) Is. 49,1 - 6;

              3º) Is. 50,4 - 11;          4º) Is. 52,13 - 53,12.

Quais são as características deste personagem misterioso?

a) Deus o ama e o chama (vv. 1º e 6º).

b) Ele possui o Espírito de Deus como os chefes carismáticos (juízes e reis de Israel - cf. BJ). A função de quem possui o Espírito de Deus é defender o povo fazendo justiça aos oprimidos.

c) O Servo vai levar o direito (= a Lei) às nações.

d) Ele é assim uma espécie de sacerdote mediador entre Deus e os homens.

e) Ele é profeta ou porta-voz do profeta de Deus. Em síntese o Servo de Javé é rei-juiz, sacerdote e profeta da justiça.

Como age o Servo de Javé?

a) Não age pela força como os poderosos. Age com mansidão na voz.

b) Não deixará morrer o restinho de esperança que ainda fumega na vida do povo (= não quebrará o caniço rachado, nem apagará a mecha...)

Sua missão?

a) Restabelecer a aliança com o povo de Israel.

b) Ser luz para todas as nações. Ele deverá abrir os olhos dos cegos (pessoas ou povos que ainda não enxergaram o projeto de Deus). Libertar os prisioneiros (pessoas e povos dominados por qualquer tipo de dominação).

Quem é o Servo de Javé?

O próprio profeta? Israel diante das nações? Os primeiros cristãos vêem nestes cantos do Servo uma clara profecia que se realiza plenamente em Jesus. Não poderia ser também uma personificação das nossas comunidades cristãs com uma missão de luz e justiça para a sociedade e o mundo paganizado? (cf. "Vida Pastoral").

2ª leitura - At. 10,34 - 38

Este capítulo do livro dos Atos marca a abertura para os pagãos. Os judeus não podiam conviver com os pagãos. Os primeiros cristãos tiveram que romper com esta grande barreira para a propagação do Evangelho. Foi um parto difícil, mas aconteceu com a força do Espírito Santo. O protagonista desta novidade é Pedro. Mais tarde, Paulo.

Pedro está hospedado na casa de Simão, o curtidor de peles, perto do mar (10,6). Curtidor de peles é profissão impura e marginalizada, mas Pedro se identifica com os marginalizados. Pedro é chamado para ir à casa de Cornélio - um pagão - mas "temente a Deus", ou seja, simpatizante com o judaísmo (10,1 - 5). Na casa de Cornélio, Pedro faz um sermão, onde podemos destacar os seguintes ensinamentos:

a) Deus não faz distinção de pessoas, de raça ou nação. Todo o mundo pode pertencer ao povo de Deus contando que tema a Deus e pratique a justiça.

b) Jesus é o anunciador da Boa Notícia da paz-salvação para todos. Ele é o Senhor de todos os homens.

c) O texto de hoje contém apenas uma parte do sermão de Pedro. Os vv. 37 - 38 fazem uma síntese do ministério de Jesus, lembrando seu batismo, sua unção pelo Espírito Santo, seu poder, pois Deus estava com Ele, suas caminhadas missionárias, suas ações e milagres em favor do povo, curando todo o tipo de enfermidades e nefastas ideologias que dominavam as pessoas (= demônios).

Com este episódio narrado em todo o capítulo 10 Lucas (autor dos Atos dos Apóstolos) mostra como, pela força do Espírito Santo, a Igreja rompe as barreiras do nacionalismo judaico e abre as portas para todos os povos considerados gentios ou pagãos.

EVANGELHO - Mt 3,13-17

A primeira impressão do texto é que o mais importante não é o batismo em si mas o que aconteceu antes e o que aconteceu depois. O v. 16 diz: "Depois de ser batizado, Jesus saiu logo da água".

Antes do batismo - vv. 13 - 15 - diálogo entre Jesus e João Batista.

O v. 13 mostra o interesse de Jesus pelo batismo de João. Ele toma a iniciativa de se dirigir ao rio Jordão, a fim de se encontrar com João e ser batizado por ele.

Os vv. 14 - 15 trazem um curioso diálogo entre Jesus e João, diálogo que é narrado apenas pelo primeiro evangelista. Qual é o pano de fundo deste diálogo? O que está por trás deve ser a polêmica entre os discípulos de Jesus e os de João. Os discípulos de João achavam que João era o Messias. Jesus sendo batizado por João fica parecendo discípulo de João, portanto inferior a João. O evangelista Mateus coloca um ponto final na questão e apresenta a solução em forma de questionamento. João reconhece sua inferioridade e se recusa batizar Jesus, pois é Jesus que na verdade deveria batizá-lo. Mas Jesus o tranquiliza dizendo: "Por ora, deixa, é assim que devemos cumprir toda a justiça!". João Batista, então, fica tranquilo e concorda em batizar Jesus. O diálogo quer mostrar a finalidade do batismo de Jesus e, portanto, o sentido da sua vida e da sua ação evangelizadora.

Qual era a finalidade do batismo de João?  Era exatamente um batismo de penitência e conversão para preparar o povo para a chegada do Messias, pois é o Messias que traria a novidade do batismo com o Espírito Santo e com o fogo (v. 11). Então por que Jesus, que além de não ter pecado era o próprio Messias, por que Jesus quis ser batizado por João? É o próprio Jesus que responde: É porque devemos cumprir toda a justiça. Esta é a frase mais importante do diálogo. Devemos - Jesus fala na 1ª pessoa do plural para incluir não apenas João Batista como seus futuros discípulos, ou seja, toda a Igreja. Esta frase traz as primeiras palavras de Jesus no evangelho de Mateus que podem ser vistas como uma síntese do seu ministério: cumprir toda a justiça. O que significa cumprir toda a justiça? Mateus entende por justiça a total submissão do homem à vontade de Deus. Jesus cumpre toda a justiça na sua fidelidade e submissão à vontade de Seu Pai, ao Seu projeto de amor. Deixando-se batizar por João, Jesus se solidariza com toda a humanidade pecadora. E é isto que vemos realmente na vida e atividade de Jesus: solidariedade total com os humildes, os pequenos, os sofredores, os marginalizados. Jesus realiza de modo radical a profecia do Servo de Javé. João resiste à insistência de Jesus e mais tarde até duvida da sua missão (cf. 11,2), pois estava fora da sua expectativa um Messias nesta linha do Servo de Javé. Para ele o Messias viria como o Messias do fim dos tempos para julgar e exterminar (cf. 3,1-12). Um Messias humilde, sofredor, solidário que percorreria o caminho da cruz; foi uma surpresa geral e até mesmo escândalo. Eis o que significa para Jesus cumprir toda a justiça, uma síntese da vida e missão, o núcleo do evangelho de Mateus.

Depois do batismo - vv. 16 - 17

Temos aqui uma teofania ou manifestação do divino. Conservando o núcleo histórico do batismo, o evangelho apresenta, num gênero próprio do apocalipse, o significado teológico da natureza, da vida e da ação de Jesus como Servo de Javé.

"Ele subiu da água" relembra Jesus como novo Moisés atravessando o Mar Vermelho, realizando um novo êxodo (cf. Is. 43,2; 63,11).

"O céu aberto" significa acesso aos segredos de Deus (c.f. Ap. 4,1). É o reino de Deus que se aproxima.

"Ele viu o Espírito de Deus, descendo como pomba vindo sobre Ele". O Espírito é a força de Deus, é a unção para uma missão profética (cf. Is. 61,1; 42,1; Lc. 4,14.18). Pomba simboliza o povo de Israel; Jesus vai fundar o novo Israel.

"Eis o meu servo, dou-lhe o meu apoio. É o meu escolhido, alegria do meu coração". O evangelista tem em mente vários textos proféticos (Is. 42,1;44,2 e Sl. 2,7). Com isto Mateus quer dizer que Jesus inaugura uma era nova de convivência de Deus com os homens através do Seu Filho - Servo que veio na total submissão ao serviço da justiça, sem triunfalismo, mas realizando ao pé da letra a profecia do Servo de Javé.

dom Emanuel Messias de Oliveira

 

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"Batizado o Senhor, os céus se abriram e o Espírito Santo pairou sobre ele sob forma de pomba. E a voz do Pai se fez ouvir: Este é o meu Filho muito amado, nele está todo o meu amor!" (cf. Mt 3,16s).

Solenidade memorável a liturgia da Igreja nos apresenta hoje o Batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo, com a precípua finalidade de relembrarmos o nosso Batismo. Batismo que nos introduz na vida da Igreja, lavando nosso pecado original e nos tornando membros da única e santa Igreja de Jesus Cristo. Como especialista em direito o que mais me fascina é a acertiva dos tratadistas canônicos que afirmam com grande cúria: "Pelo Batismo tornamos cidadãos do céu, fiéis com direitos e com deveres na Igreja de Cristo, aptos para a vida de comunidade".

Batismo que significa uma renovação dos compromissos com a nova evangelização e uma fidelidade ao projeto de Deus, expresso na ação e nas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo. Também com a solenidade do Batismo do Senhor encerramos o tempo santo do Natal.

A primeira indagação de nossa liturgia de hoje deve ser a seguinte: Por que Jesus foi batizado? Para que batizar uma pessoa, que é Deus, e que não tinha pecado original?  O Batismo de Jesus tem um significado especial, porque ele assinala o início da vida pública de Nosso Senhor. Toda a narrativa do Evangelho de Lucas fala das qualidades daquele que vem salvar a humanidade: maior que o grande e penitente, o profeta João Batista, filho muito amado do Pai, cheio do Espírito Santo que desce sobre ele em forma corpórea, e com ele permanecerá e dele será a testemunha através dos tempos; será o Cordeiro de Deus, que carregará todos os pecados, ou seja, será o salvador, o redentor da humanidade, o caminho que une o céu à terra, o garante da fidelidade da nova e eterna aliança.

O batismo que hoje lembramos caminha para outro batismo que recordaremos na Páscoa: a morte e ressurreição de Jesus. Quando os filhos de Zebedeu pedem a Jesus o privilégio de se assentarem um à direita e outro à esquerda na glória, Jesus lhes pergunta: "Aguentareis ser batizados com o batismo com que tenho de ser batizado?" (cf. Mc. 10,38). Tudo isso para indicar que é pela morte que Jesus se torna a pedra fundamental de um novo mundo. E é pelo batismo que nós somos introduzidos nesse mundo novo, mas será pela morte a nós mesmos que nos tornamos pedras vivas da Casa de Deus, para usar uma expressão do primeiro Apóstolo, São Pedro.

No Evangelho de hoje (cf. Lc. 3,15 - 16.21 - 22) João Batista, o precursor, o último profeta do Antigo Testamento, anuncia que Jesus vai batizar com o Espírito Santo, pois ele estava batizando com água. Manifestação ou anúncio do poder messiânico de Jesus, porque a força do Espírito Santo é capaz de purificar, de fortalecer, de restaurar, de quebrar as cadeias dos prisioneiros, de dar luz aos cegos e, sobretudo, de justificar, isto é, de fazer a criatura humana cumprir a vontade de Deus com amor filial. Assim, quem cumprir este caminho, pode ser como o Espírito de Jesus, o espírito da Santidade.

O mandato do Batismo é do próprio Senhor Jesus que na hora da Ascensão, aludindo ao poder que tinha no céu e na terra, mandou batizar a todos os povos (cf. Mt. 28,18 - 19). Assim, São Paulo, com grande cúria, numa de suas epístolas aos Efésios ensinou que: "Fortes selados com o selo do Espírito Santo" e  este selo será o bilhete para a herança eterna, para a vida em Deus, para a vida da graça e da santidade.

Porque se deixar batizar? Não somente para se ver livre do pecado original, mas mais do que tudo isso, é aceitar a Jesus, é ter consciência da vida de fé que é chamado a participar da comunidade.

Outra dimensão importante do batismo é a dimensão missionária, porque todos nós queremos ver Jesus no clamor dos bispos brasileiros, dentro do mutirão da nova evangelização, e, particularmente, dentro do espírito permanente das missões que nos iluminou a V Conferência geral do episcopado latinoamericano de Aparecida. Ver Jesus é exercitar nosso batismo, que é acima de qualquer coisa estabelecer uma santa sintonia entre as profecias anunciadas na primeira leitura e a missão de Jesus, professada no Evangelho pela manifestação do Espírito Santo, e colocada em prática pela Igreja militante que peregrina neste mundo de contradições, de sofrimento e de dor.

A primeira leitura (cf. Is. 42,1 - 4.6 - 7), de Isaías, descreve aquele homem justo – cuja identidade a distância do passado apagou – que animou o povo judaico durante o exílio babilônico. A escola de Isaías lhe consagrou quatro cantos: os cantos do "Servo de Javé". No primeiro canto, lido hoje ouvimos a eleição deste servo predileto de Javé, para levar ao povo e mesmo às "ilhas" (os continentes, os outros povos) a verdadeira religião, isto é, o verdadeiro conhecimento do Deus de misericórdia e fidelidade. Ele é aliança com os povos, luz das nações, para restaurar a paz e a felicidade de todos os oprimidos. Reconhecemos aqui o quase trágico universalismo dos judeus, que, no seu Exílio, tomaram consciência de serem as testemunhas do verdadeiro Deus no meio das nações.

A segunda leitura (cf. At. 10,34 - 38) é o resumo do "querigma" ou anúncio dos Apóstolos ao mundo, proclamando a missão de Jesus como Messias e Filho de Deus, a partir de seu batismo por João. Em At 10, esta proclamação é feita aos pagãos, amigos do centurião Cornélio, o que dá um tom específico de universalismo a esta leitura.

A liturgia de hoje não deixa de mencionar nosso próprio batismo e a filiação divina. De fato, se nós continuamos realizando o sinal de João Batista, é exatamente porque queremos unir-nos com Jesus que, neste sinal, assumiu a vontade de Deus e sua missão. Nosso batismo, portanto, nos torna partícipes da missão do Servo e Filho amado. Também nos qualifica como filhos, embora a nossa vida, com a graça de Deus, ainda deverá tornar-nos plenamente o que somos chamados a ser.

Assim o Espírito Santo de Deus desceu sobre Jesus enquanto rezava. Ele desce também sobre a comunidade dos fiéis reunida em oração, comemorando sua descida sobre Jesus no Rio Jordão. Ele nos fará reconhecermos como filhos e filhas muito amados de Deus em Jesus Cristo e dar testemunho desta vida no mundo. Essa é a nossa missão, nesta peregrinação que iniciamos com Jesus no início do tempo comum.

padre Wagner Augusto Portugal

 

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A festa de hoje encerra o sagrado tempo do Natal: o Pai apresenta, manifesta a Israel o Salvador que ele nos deu, o Menino que nasceu para nós: "Tu és o meu Filho amado; em ti ponho o meu bem-querer", ou, segundo a versão de Mateus: "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo!" (3,17).

Estas palavras contêm um significado muito profundo: o Pai apresenta Jesus usando as palavras do profeta Isaías, que ouvimos na primeira leitura da missa. Mas, note-se: Jesus não é somente o Servo; ele é o Filho, o Filho amado! O Servo que o Antigo Testamento anunciava é também o Filho amado eternamente! No entanto, é Filho que sofrerá como o Servo, que deverá exercer sua missão de modo humilde e doloroso!

Hoje, às margens do Jordão, Jesus foi ungido com o Espírito Santo como o Messias, o Cristo, aquele que as Escrituras prometiam e Israel esperava. Agora, ele pode começar publicamente a missão de anunciar e inaugurar o Reino de Deus. Esta missão, ele começou desde que se fez homem por nós; agora, no entanto, vai manifestar-se publicamente, primeiro a Israel e, após a ressurreição, a toda a humanidade. É na força do Espírito Santo que ele pregará, fará seus milagres, expulsará Satanás e inaugurará o Reino; é na força do Espírito que ele viverá uma vida de total e amorosa obediência ao Pai e doação aos irmãos até a morte e morte de cruz.

Mas, atenção: como já dissemos, esse Jesus que é o Filho, é também o Servo sofredor, anunciado por Isaías. Hoje, o Pai revela a Jesus qual o modo, qual o caminho que ele deve seguir para ser o Messias como Deus quer: na pobreza, na humildade, no despojamento, no serviço! É assim que o Reino de Deus será anunciado no mundo. Jesus deverá ser manso: "Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas". Deve ser cheio de misericórdia para com os pecadores, os fracos, os pobres, os sem esperança: "Não quebra a cana rachada nem apaga um pavio que ainda fumega". Ele irá sofrer, ser tentado ao desânimo, mas colocará no seu Deus e Pai toda a sua esperança, toda a sua confiança: "Não esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra". O Senhor Deus estará sempre com ele e ele veio não somente para Israel, mas para todas as nações da terra: "Eu, o Senhor, te chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos aos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas".

E Jesus já começa cumprindo sua missão na humildade: ele entra na fila dos pecadores, para ser batizado por João. Ele, que não tinha pecado, assume os nossos pecados, faz-se solidário conosco; ele, o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo! "João tentava dissuadi-lo, dizendo: 'Eu é que tenho necessidade de ser batizado por ti e tu vens a mim?' Jesus, porém, respondeu-lhe: 'Deixa estar, pois assim nos convém cumprir toda a justiça'" (Mt. 3,14s).Assim convinha, no plano do Pai, que Jesus se humilhasse, se fizesse Servo e assumisse os nossos pecados! Ele veio não na glória, mas na humildade, não na força, mas na fraqueza, não para impor, mas para propor, não para ser servido, mas para servir. Eis o caminho que o Pai indica a Jesus, eis o caminho que Jesus escolhe livremente em obediência ao Pai, eis o caminho dos cristãos, e não há outro!

Uma última observação, muito importante: João diz: "Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo". O batismo de João não é o sacramento do Batismo: era somente um sinal exterior de que alguém se reconhecia pecador e queria preparar-se para receber o Messias. Ao ser batizado no Jordão, Jesus é ungido com o Espírito Santo para a missão. Esta unção será plena na ressurreição, quando o Pai derramará sobre ele o Espírito como vida da sua vida. Então – e só então – ele, pleno do Espírito Santo que o ressuscitou, derramará este Espírito, que será também seu Espírito, sobre nós, dando-nos uma nova vida! Para os cristãos, não há batismo nas águas, mas somente Batismo no Espírito, simbolizado pela água (cf. Jo 3,5; 7,37 - 39). Ao sermos batizados, recebemos o Espírito Santo de Jesus e, por isso, somos participantes de sua missão de viver, testemunhar e anunciar o Reino de Deus, a Vida eterna, a Vida no amor a Deus e aos irmãos, que Jesus veio anunciar ao se fazer homem igual a nós! Mas este testemunho não é festivo, não é de oba-oba, mas um testemunho dado na simplicidade, na pobreza e na humildade do dia a dia!

Eis! O Menino que nasceu para nós, a Criança admirável que cresceu em sabedoria, idade e graça, submisso aos seus pais na família de Nazaré, o Deus perfeito, filho da Toda Santa Mãe de Deus, Aquele que com o brilho de sua Estrela atraiu a si todos os povos, hoje é apresentado pelo Pai: ele é o Filho querido, ele é o Servo sofredor, ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, ele é o Messias, o Ungido de Deus! Acolhamo-lo na nossa existência e no nosso coração e nossa vida terá um novo sentido. Seguindo-o, chegaremos ao coração do Pai que o enviou e é Deus com ele e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos.

 dom Henrique Soares da Costa

 

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Batismo do Senhor

Jesus foi batizado no rio Jordão por são João Batista. A Santíssima Trindade se manifestou. O Pai falou do céu, o Filho estava na água e o Espírito apareceu em forma de pomba. Jesus é o Filho amado e sobre ele pousa o Espírito. O Menino que nasceu em Belém já está com trinta anos. Tornou-se adulto e vai agora começar a sua vida pública, sua ação missionária, sua pregação.

Trinta anos se passaram. O que Jesus fez nesse tempo? Nada, ou nada de especial. Ele viveu simplesmente como qualquer um de nós. Viveu a vida de cada dia. Quando dizemos viveu, significa que viveu intensamente. Tomou a existência nas mãos e a viveu com entusiasmo. Dele se diz que fez bem tudo o que fez. Jesus não vegetou durante 30 anos. Na vida oculta de Nazaré, Ele já era o Salvador feito homem. Esse período da vida de Jesus ilumina a nossa vida de cada dia e mostra o valor que ela tem diante de Deus. Viver intensamente esta vida neste mundo é louvar o Criador de todas as coisas. Nossa vida às vezes parece monótona e comum demais, sem nada de extraordinário. O extraordinário é a própria vida e, se bem vivida, é um bem extraordinário.

Passado o tempo de Nazaré, Jesus entra nas águas do Jordão, revela-se ao mundo como o Filho amado do Pai. Depois é levado pelo Espírito ao deserto, de novo a Nazaré, e por toda parte, para o cumprimento de sua missão. Esse período é bem mais curto, de dois a três anos. Nós o chamamos de "a vida pública de Jesus". É um tempo especial, marcadamente missionário, de pregações e sinais.

João pregava um batismo de penitência para preparar a vinda do Senhor. Jesus é o Senhor, que santifica com o seu corpo as águas do rio Jordão. Seu batismo real será na cruz, quando o sangue correr de seu coração para lavar o pecado do mundo. Ele se referiu a esse batismo quando perguntou a Tiago e João: "Vocês podem beber o cálice que eu vou beber e ser batizados com o batismo com que serei batizado?" (Mc. 10,38).

João Batista dizia que Jesus veio batizar no Espírito Santo e no fogo. Com sua morte e ressurreição, Jesus nos dá o Espírito que nos faz passar pelo fogo da purificação. O mundo inteiro recebe o Espírito, mas só os que têm a revelação sabem disso. Eles são chamados a compor o corpo visível de Cristo neste mundo, que é a sua Igreja, e conscientes pela revelação dada, como fogo iluminam o mundo e o purificam enquanto eles mesmos passam pela provação da purificação. São Paulo os chama de "comprovados" com diversas formas do verbo provar-aprovar. Você é escolhido e provado e assim se torna apto para a missão.

O Espírito Santo é Amor criativo e o fogo ilumina, aquece e queima. No batismo recebemos o Espírito para iluminar, aquecer e queimar. Uma comunidade cheia do Espírito Santo é criativa e construtiva, está sempre em movimento e pensa sempre no bem dos outros. Quem foi batizado no batismo de Jesus não é turista na Igreja nem mero espectador. Não passa para ver o que está acontecendo ou entra para assistir a um espetáculo. A celebração litúrgica na comunidade é um momento forte na vida do batizado, que age no mundo.

cônego Celso Pedro Silva

 

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O BATISMO DO SENHOR

Estando, pois, em expectativa a multidão, e meditando todos em seus corações sobre o João, se não era ele o Cristo (15), respondeu o João a todos dizendo: eu certamente vos batizo em água; vem, porém, o mais forte do que eu do qual não sou digno de desatar a correia dassandálias. Ele vos batizará em espírito sagrado e em fogo (16).

Em expectativa. A frase grega é um particípio de presente do verbo Prosdokaö com o significado de estar a espera de, ou na expectativa. Eram os tempos em que Israel esperava o Rei-Messias como Salvador. Lucas usa um termo geral, falando das suposições e rumores da época. João, testemunha dos fatos e que foi discípulo do Batista, concretiza mais a pergunta e por ele, sabemos que a pergunta foi feita de modo formal por sacerdotes e levitas, especialistas em questões de purificação ritual, da classe dos fariseus (1,19 - 25). Tenhamos em conta que João, o Batista, era filho de um sacerdote e que os levitas eram geralmente os guardas do templo. A pergunta era dupla: quem és tu? E qual o teu direito para batizar? A reposta de João indica que os judeus, na época, esperavam três eventos em particular: um ou vários Messias, Elias de volta e um profeta.

Primeira opção. O Messias era o título de um rei davídico esperado na época. Elias porque também era esperado como precursor. Finalmente o profeta, pois era voz comum que com o Messias proposto por Malaquias em 3, 1 e 23, viria Elias, o profeta: Os envio o meu mensageiro(…) e vos enviarei  Elias, o profeta, antes que venha o dia grande e terrível do Senhor. Do texto, podemos deduzir que a vinda do Messias (o mensageiro) era um ato de juízo divino, pois o dia do Senhor é um dia terrível. Isso mesmo afirmará o Batista ao afirmar quem vos ensinou a fugir da ira que está por vir? (Lc. 3,7). Sabemos que a palavra Massiyah significa ungido (lambuzado) com óleo, traduzida ao grego por Xristós ou Cristo. A palavra sai 40 vezes no AT. Inicialmente, o Ungido era o sacerdote, como podemos ver no livro do Levítico. Logo, passou a designar o Rei, nos livros de Samuel, Crônicas e Salmos; algumas vezes o povo de Israel (1 Cr 16,22 e Sl 105, 15) e, unicamente, em Is. 45,1 é Ciro, o ungido (como para designar que devia ser respeitado como rei de Israel?). Finalmente, a palavra Messias tem em Dn. 9,25 - 26 um significado no NT, que é o de Xristós grego, empregado por João em 1,41. Segundo a profecia de Natã "Tua casa e tua realeza serão para sempre estáveis diante de ti, e teu trono, confirmado para sempre" (2 Sm 7,10). Por isso, o Messias, como ungido do Senhor, viria quando o rei de Israel não fosse de origem davídica. E, precisamente, estes eram os tempos. O Messias seria um rei que administrasse justiça, governasse todos os homens e seria a salvação do povo.

As outras duas opções são também rejeitadas por João, o Batista. Vejamos: seria Elias? Seu nome significa cujo deus é Jahveh. Elias foi o restaurador do javismo ao exterminar os profetas dos "Baalim" no monte Carmelo (1 Rs cap 18). Milagroso e solitário, vestia uma túnica  feita de pelos com os lombos cingidos com um cinto de couro (2 Rs 1,8) à semelhança do Batista. Sua vida não terminou com a morte comum, mas foi elevado ao céu num carro com cavalos de fogo (2 Rs 2,11). Devido a este último sucesso, os judeus esperavam sua volta nos tempos messiânicos (Ml 4,5). Jesus identifica Elias com o Batista (Mt. 11,12 - 14). O próprio João o nega em sua humilde confissão. O profeta? A palavra significa aquele que fala em nome de Deus. Em hebraico é geralmente usada a palavra NAVI  em plural naviim. De Aarão diz-se que era o profeta de Moisés (Êx 4,10 - 16). Este terceiro personagem, esperado nos tempos messiânicos, era sem dúvida devido às palavras de Moisés em Dt 18,17 - 22 : "Um profeta como tu suscitarei do meio de teus irmãos'. João nega também esta suposição que aparece implícita nas palavras de Jesus: (Mt 11, 9 - 10) louvando a figura do Batista. É mais que um profeta porque não unicamente revela a palavra, mas a pessoa que é a mesma palavra de Deus.

A voz. João justifica sua norma de atuação declarando que é a voz que brada no deserto, como disse o profeta Isaías (40,3 - 4 ). A finalidade dessa voz era preparar os caminhos para o Senhor. Uma volta dos corações dos filhos à crença dos pais  e conduzir os rebeldes a pensar como homens honestos a fim de formar um povo digno do Senhor (Lc. 1,17). Em definitivo, um reformador do verdadeiro Javinismo, como foi Elias, o profeta.

O batismo de João. Eu vos batizo em água: batizo, ou melhor, seria submergir em água. No grego clássico havia dois verbos para indicar um mergulho em água: bapto e  baptizo. O médico Lisander que viveu perto do ano 200 a.C. os distingue perfeitamente: para fazer picles deve primeiro mergulhar (bapto) o vegetal em água fervente e depois submergi-lo (baptizo) em vinagre. Desse modo o batismo não deve ser um ato casual, mas um processo permanente. É uma conversão e, portanto, significa uma mudança continuada. Lucas fala da mudança que João exige do povo comum, dos coletores de taxas e dos policiais. Isso entre os judeus. Para os gentios é só abrir as páginas de Paulo aos romanos  em 1,25 - 31 para ver em que devia consistir a methanoia [conversão] entre eles. O batismo, segundo Paulo, é para se despojar do velho homem, corrompido com concupiscências enganosas, para se vestir do homem novo, criado segundo Deus em justiça e retidão, procedentes da verdade (Ef. 4,22 - 24). Podemos afirmar que, diante destas reflexões, os batizados são menores que os lavados pela água inicial.

O mais forte. João acrescenta um ponto final: virá um mais forte (maior) do que ele do qual não é digno de levar as sandálias, como escravo.

As sandálias. O Hypodema grego (atado em baixo literalmente; em latim calceamentum)  indica qualquer tipo de calçado, especialmente uma sola de couro, casca de palmeira ou caniço, na planta dos pés que era depois  atada com correias de couro (o imas grego, em latim corrigia). Esse calçado era usado para as viagens ou trabalho da lavoura da terra. Era próprio da mulher ou do escravo mais humilde receber o dono após voltar de uma viagem, desatar os cordéis das sandálias e lavar seus pés. Esta lavagem se fazia sempre que um hóspede entrava numa casa para um banquete (Gn. 18,4 e Lc. 7,38). Jesus lavou os pés dos discípulos antes da última ceia (Jo 13, 5). Na igreja primitiva, as viúvas lavavam os pés dos santos (= cristãos) (1 Tm. 5,10). Compreende-se o costume pela razão de que os comensais se deitavam praticamente no chão sobre travesseiros, para os banquetes, entre os quais devemos incluir a Ceia do Senhor (1 Cor. 11,20). O Batista se rebaixa até dizer que, como servo, nem é digno de fazer o que o último dos tais faria ao seu senhor.

Em Espírito Santo e fogo, ou seja, uma imersão no espírito divino em que os profetas e os homens santos escolhidos por Deus estavam habitualmente imersos, ao mesmo tempo que uma simbólica purificação pelo fogo, ou seja a máxima pureza que um metal podia obter através de métodos de limpeza de escórias e contaminações. Logicamente, o Batista não conhecia a ação do Espírito como terceira pessoa da Trindade; mas nós temos textos de Qumrã que ele poderia conhecer, e que dizem: "Então (quando aparecer para sempre a verdade sobre a terra) Jahvé purificará em sua verdade todas as ações do homem e depurará (por meio do fogo) para si, o corpo de cada um; a fim de eliminar todo espírito de iniquidade de sua carne e limpá-lo pelo espírito de santidade de todos os atos de impiedade. E ele derramará sobre o homem o espírito de verdade como água lustral". (água obtida pela imersão de um tição aceso trazido do altar dos sacrifícios). No AT existiam várias lavagens com água que se consideravam ritos, e numa delas misturavam-se cinzas do sacrifício como é o caso da novilha vermelha para a água purificadora da oferta pelo pecado (Nm 19,9). Era o chamado Korban para Aduma (sacrifício da vaca vermelha) em que se prescreve a Juka (estatuto) da Torah (lei) como uma coisa especial, embora não se saiba o porquê de uma vaca vermelha. Talvez por representar a cor do sangue da menstruação feminina que constituía com a morte a principal causa de impureza. O fogo era também instrumento de purificação (Nm 31,23) O mensageiro do Senhor purificará como o fogo do ourives e a potassa dos lavandeiros. Purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata (Ml 3,2 - 3). Qual acrisolador te estabelecerei entre o meu povo…em vão continua o depurador porque os iníquos não são separados (Jr. 6,27 - 29). Com estes textos do AT podemos deduzir que, sem dúvida, o batismo ao qual se referia João era um batismo de purificação. O dele era em água lustral para preparar o batismo mais completo do Messias, que apresentava duas partes diferentes: 1) A parte principal era o espírito novo a receber os que se submergiam no novo batismo de verdade e santidade; 2) ao mesmo tempo pelo batismo em fogo referia-se João a esse sinal de contradição (Lc. 2,34) que foi a vinda do Messias, e que imediatamente expressará com o símbolo da pá para separar bons e maus. É o batismo na ira divina. Por isso no início clamará: Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura?

O Batismo do Messias era, pois, uma imersão no espírito divino da verdade para quem estivesse preparado pela mente da conversão, ou no fogo destruidor para quem não tivesse preparado o caminho da verdade, que não se admite sem uma pureza de mente e limpeza de sentimentos. A alusão ao batismo sacramental é como diz um autor, um estágio tardio (o 3º) da tradição, uma vez sabida a força do Espírito Santo em Pentecostes.

Batismo de Jesus. Sucedeu, pois, que ao ser batizado todo o povo, também Jesus sendo batizado e orando, foi aberto o céu (21), e desce o Espírito, o Divino, em forma corporal como pomba sobre ele e uma voz do céu surgir dizendo: Tu és meu filho, o dileto = dilectus em ti me agradei (22).

A Epifania. Usando os tempos do verbo de modo correto, podemos traduzir: e aconteceu que quando Jesus foi batizado e estando em oração; o primeiro é um passado e o segundo um presente. Houve, pois dois tempos diferentes. Uma vez batizado (em latim Jesu baptizato), e estando orando (orante) é quando se abriu o céu, ou seja, a abóbada  ou teto arqueado (ofirmamento do Gênesis) do qual pendiam as estrelas e que segurava as águas superiores, separando o terceiro céu, morada esta do Altíssimo. Esse abrir-se indica um relâmpago (Deus é luz) com o correspondente trovão, como descreve João evangelista a voz da epifania aos gregos (Jo. 12,28). Testemunha deste sucesso extraordinário foi o Batista, porque como ele afirmou em testemunho: tenho visto o Espírito descendendo como uma pomba do céu e permaneceu sobre ele (Jo. 1,32). Esse Espírito será sagrado para Lucas e será o Espírito, o de Deus (sic) para Mateus. Em nenhum caso se afirma taxativamente que era figura de pomba ou como pomba, mas que a sua descida era suave como a de uma pomba que está  pousando.

A voz. Tu és o meu Filho, o amado, em ti encontrei satisfação. O adjetivo, o amado, é propriamente um epíteto, um cognome que o distingue perfeitamente dos outros filhos  e estabelece uma relação especial entre Jahveh e Jesus, acrescentada por que em Ti tenho meu agrado, que poderíamos traduzir por em ti encontro meu enlevo, tu és minha maravilha, o desejo cumprido de meus planos. Seria esta a tradução direta do texto hebraico de Is. 42,1:"Aqui está meu servo a quem protejo; meu escolhido em quem minha alma se agrada. Pus nele meu espírito para que traga a justiça às nações". Porém o texto grego diz: Jacó, meu servo, eu o assistirei; Israel, meu escolhido, eu o aceitei. Não obstante, Mateus traz uma versão em 12,18  citando o profeta Isaías que confirma um texto grego próximo ao hebraico original: "Eis o meu servo [pais] (em grego pais significa filho ou servo) a quem eu escolhi, o meu bem amado em quem se alegrou minha alma. Sobre ele porei o meu Espírito e ele anunciará o julgamento às nações". Com isso o filho se transforma em servo. O servo de Jahveh e a sua incumbência será proclamar um juízo às nações ou uma sentença contra os gentios. Se comparamos o texto de hoje com os outros dois das epifanias evangélicas, o do Tabor (Lc. 9,35; Mt. 17,5 e Mc. 9,7) e o do João 12, 28, vemos como o Filho é louvado e agrada plenamente o Pai por se transformar em servo (escravo) (At. 3,13) e vemos como o servo (Maria e Israel, Lc. 1,54) se transforma em filho precisamente pela sua obediência, e assim agrada plenamente o Pai (Jo. 15,10).

pe. Inácio, dos padres escolápios

 

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Esta festa oferece uma boa ocasião para refletir sobre uma pergunta que me fez um dia um bispo: "Porque precisamos ser batizados? O que é que responderias a uma pessoa que te fizesse esta pergunta?"

Acho que queria pôr à prova a solidez dos meus estudos. Um pouco para brincar, o bispo começou a provocar-me com argumentos que contestavam a necessidade do batismo. Não sei se Voltaire teria feito melhor: "Os efeitos do batismo são puramente espirituais: o perdão dos pecados, a configuração com Cristo por meio do caráter e a recepção nos nossos corações da Vida mesma de Deus. Não bastaria fazer um ato puramente espiritual de adesão a Cristo para receber estes dons? É necessária toda uma cerimônia com água a correr-nos pela cabeça? Não estamos dando uma imagem demasiadamente materialista de dons tão elevados?"

Naquele momento, não tinha feito tantos estudos de teologia e a minha resposta não pareceu convencê-lo muito. Na verdade, não basta dizermos que Cristo indicou explicitamente que todos devíamos ser batizados. Claro: isso basta para que o façamos, dado que confiamos em Cristo. Mas porque Cristo quis o batismo?

Agora, depois de ter estudado um pouco mais a questão, vejo que quem negasse a necessidade do batismo e o quisesse suplantar por uma espécie de ato mental de adesão, mostraria não ter entendido um aspecto absolutamente essencial do cristianismo. Não esqueçamos nunca que o Amor de Deus se encarnou. Contemplávamos isso há bem pouco tempo no Natal. Deus fez-se homem e, por isso, amou-nos de forma humana, sorrindo-nos, servindo-nos até ao esgotamento físico quase, caminhando conosco e, por fim, sofrendo realmente o suplício da cruz, com as dores que todo homem teria tido no seu lugar.

Se Deus quis amar-nos humanamente, é porque ele valoriza o amor humano e espera de nós este amor. Por isso, a nossa adesão a Ele não pode expressar-se de uma forma puramente espiritual, angélica, mas de uma forma sensível, corporal, com gestos, palavras e símbolos do mundo material. E porque a nossa adesão reveste-se destes elementos, ela torna-se realmente comprometedora. Por isso, também, nunca poderá ser a mesma coisa confessar-se espiritualmente a Deus e confessar-se a um homem de carne e osso.

Além disso, aderir a Deus é entrar na Igreja. O nosso ato de entrada na Igreja não poderia ser real ou comprometedor, se fosse puramente interior. Necessita uma forma sensível pública.

Tudo isso leva-nos a sublinhar a faceta "carnal" do nosso cristianismo. É fundamental que tenhamos uma espiritualidade que não seja exclusivamente espiritual, se me permitem a redundância. Precisamos de uma espiritualidade encarnada, feita de gestos concretos, onde a ajuda real ao próximo, a comunhão e adoração eucarística, as estátuas e imagens de Cristo, de Nossa Senhora, dos santos… se revistem de grande importância.

Não esqueçamos que o nosso coração não é puramente espiritual. Inclui a nossa corporeidade. Somos espírito e corpo e o centro do nosso ser necessariamente integra ambas dimensões. O nosso coração fica mais tocado pelo amor, quando este amor não se apresenta somente de modo espiritual. O coração da esposa fica mais sensibilizado, quando, para além da palavra "amo-te", o esposo lhe oferece flores. Igualmente, o coração do esposo cresce mais no amor à esposa, quando, para além de lhe dizer "amo-te", lhe oferece realmente flores. De igual modo, o nosso coração é mais sensível a Cristo, quando o vê representado de forma bela numa imagem.

Contavam-me, certa vez, religiosos da minha Congregação que, por algum motivo, tiveram que levar uma estátua de Nossa Senhora em Manhattan. Não se tratava de uma espécie de procissão. Simplesmente tinham de levá-la a uma casa. E não é que se surpreenderam ao verem quantas pessoas na rua faziam o sinal da cruz ou atos de reverência diante da estátua. O simples transportar uma estátua transformava-se espontaneamente num ato religioso. A nossa fé precisa visibilidade, precisa tocar o mistério a través de coisas sensíveis. Assim é também como nós evangelizaremos. Por isso, também, nós gostamos de convidar jovens para os nossos seminários, jovens que até mesmo não têm muita fé. Mas o simples fato de verem e de conviverem com outros jovens da sua idade que vivem em profundidade e com caras felizes a sua relação a Deus, transforma-lhes o coração. Dão-se conta que Deus vive.

Abordando agora o Evangelho deste domingo, impressiona precisamente o fato que Cristo quis ser batizado. Quis que, visivelmente, diante de todos, São João Baptista lhe administrasse o Batismo. Não precisava do perdão de Deus, nem de receber a Vida de Deus no coração. Já era Deus! Mas quis realizar este gesto para ensinar-nos que todos devemos passar por esta porta, a do batismo. Ao mesmo tempo, Cristo mostra-nos que Ele é verdadeiramente um homem e que quer sujeitar-se, como todos nós, às leis humanas. Como dizíamos, quer amar-nos humanamente. E que honra para João! Pôde batizar o próprio Deus! Nunca teria sonhado com uma coisa dessas. De fato, parece que ao início recusou. Deus recompensa quem o ame para além de tudo o que poderia imaginar. Mas se pensarmos bem, esta honra nós a temos cada vez que servimos o nosso próximo. Ou o nosso próximo não é outro Cristo? Quem o serve, serve misteriosamente e realmente Cristo.

Ao mesmo tempo, são João Baptista é o último dos profetas do Antigo Testamento e, por isso, nesta cena do Batismo, ele simboliza o Antigo Testamento. Cristo, ao aceitar o batismo de João, mostra que toma sobre ele toda a herança do Antigo Testamento, reconhecendo o seu valor. Mas, ao mesmo tempo, vai transformá-la e completá-la profundamente. Se temos dúvidas sobre isso, vejamos o que acontece logo depois de batizado: "o céu abriu-se e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corporal, como uma pomba. E do céu fez-se ouvir uma voz: Tu és o meu Filho muito amado: em Ti pus toda a minha complacência".

Este acontecimento terá sido magnífico. A Ssma. Trindade manifesta-se sensivelmente e entra claramente na história dos homens. É o amor entre as três Pessoas divinas a entrar no nosso mundo; é essa força infinita que quer transformar as nossas vidas e levar-nos a transformar a dos outros. Com efeito, este acontecimento, de alguma forma, reproduz-se em cada Batismo. Em cada Batismo, desce sobre o batizado o Espírito Santo, ou seja, a força viva e pessoal do amor divino e, ao mesmo tempo, o Pai eterno olha para o seu novo filho e diz: "tu és o meu filhinho, em Ti pus toda a minha complacência". "Toda a minha complacência", diz Deus, e não simplesmente "algo da minha complacência".

Quanto Deus nos ama! Não nos falta às vezes despertar a consciência desta amor? É tão incrível que o Senhor de tudo ame estas pobres formigas que somos com tanta plenitude, é tão espantoso, que necessitamos constantemente despertar a fé nesta verdade. Por isso, de facto, a nossa fé pode transportar montanhas! Porque se baseia não somente numa certa afinidade entre Deus e nós, mas porque Deus Pai nos ama com a mesmo intensidade e plenitude com que ama Deus Filho.

Entendemos, também, a esta luz, porque é tão necessária o que chamávamos uma espiritualidade encarnada. Precisamos constantemente signos visíveis do amor infinito de Deus, porque é uma verdade tão imensa, que a perdemos facilmente de vista. Como é de lamentar que nas escolas se quer, por exemplo, retirar os crucifixos! Existe maior prova do amor de Deus do que o crucifixo? Recordo com saudades como João Paulo II o beijava insistentemente nas celebrações, sobretudo quando já sofria tanto do mal de Parkinson. Cada beijo ao crucifixo era um pouco como repetir a Cristo: "tu sofreste tudo aquilo por mim, não posso eu sofrer um pouco pelo mundo?"

Pessoalmente, tenho sempre uma imagem de Nossa Senhor do Coromoto, quando trabalho, e busco beijá-la com frequência, para nunca perder de vista que o que faço só tem sentido se for por amor a Deus. E, por outro lado, quantas vezes, olhar para um crucifixo ajuda-nos nos momentos difíceis da vida! A nossa vida diária deveria ser constantemente povoada de olhares amorosos a símbolos que nos falam do amor de Deus, de um amor que não somente quis salvar-nos de longe, desde o Céu, mas a través do mais duro sacrifício pessoal. A "espiritualidade encarnada" é preciso aplicá-la nas nossas relações com os outros: que possam olhar-nos e ver em nós uma ícone de Deus. Porque sorrimos, porque servimos, porque somos pacientes, porque a paz mora nos nossos corações… Há temperamentos que vivem mais facilmente que outros estes aspectos da nossa relação com os outros. O que conta é o nosso esforço sincero, é este que ajuda Deus a salvar.

Vivamos, pois, irmãos e irmãs esta dimensão tão peculiar do cristianismo, fruto da Encarnação de Deus, e teremos a sensação de levar Deus à nossa vida e ao mundo, de ajudar Nosso Senhor a encarnar-se cada vez mais nas nossas sociedades. Que honra a de poder contribuir com pequenos gestos a um desígnio tão grande! Creio que uma das maiores provas do amor de Deus é precisamente esta: querer precisar da nossa ajuda, como quis precisar do batismo de João.

pe Antoine Coelho, LC

 

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