Agosto(14-sábado)2010 Comentário à 1ª Leitura
(19ªsemana T.Comum-
Ezequiel 18,1-10.13b.30-32 Vou julgar cada um de vós segundo a sua conduta.
[ Evangelho Deixai as crianças virem a mim,porque delas é o Reino dos Céus Mateus 19,13-15]
A pregação profética sempre se dirige à comunidade pois também essa atividade reflete a mentalidade geral de um povo na Antiguidade quanto aos laços solidários praticamente “tribais’, sobretudo no caso de Israel em que há também expectativa do futuro coletivo desde as promessas feitas a Abraão. Contudo, desde Jeremias cresce a consciência sobre o valor maior dos comportamentos individuais. Ezequiel vai acentuar ainda mais essa responsabilidade pessoal. É o que chamamos habitualmente de gradual interiorização da religião. O grupo, a sociedade, a cultura, têm seus valores que moldam também nosso caráter, dão-nos abrigo e uma formação ética. Mas não somos como abelhas ou o gado. O que nos envolve também tem tradições carregadas de preconceitos e o pior deles é o da culpa coletiva. O texto do profeta é Deus dizendo: não admito que vocês pensem que uns pagam pelos outros. Cada um deve ser responsável por seus atos.
Essa é uma questão teológica – e cultural – importantíssima. Pois é lá no judaísmo que vamos encontrar de certa forma os primeiros esboços dos conceitos de Pessoa e Indivíduo. Será um longo processo de uma complexa transmissão de valores. Primeiro, “via” cristianismo (mais tarde) ao qual se juntou o pensamento grego que vinha sendo difundido no Helenismo e, depois, pelo seu herdeiro cultural, o Império Romano. O tema do indivíduo por sua vez será exacerbado da renascença à modernidade européia e, finalmente pelo Iluminismo e pela modernidade econômica chegando a trazer também o lado negativo de um certo “individualismo”. A Pessoa, no entanto, se afirmará cada vez mais como valor inestimável permitindo a crescente consciência dos direitos humanos.
De qualquer modo, é importante ouvir a Palavra de Deus em Ezequiel que indica com força não haver “transferência” de culpas de pai para filho. Cada é responsável por sua liberdade, assim como o amor de Deus chega ao íntimo de cada pessoa. O texto do profeta conclui (versos 30-3) insistindo uma vez mais na conversão, na busca de um coração novo porque Deus não quer a morte do homem mas sua redenção.
No evangelho Jesus aproveita o gesto dos discípulos afastando dele as crianças (devem ter pensado: crianças não tem idade para entender os ensinamentos do nosso Mestre) e lhes mostra como entrar para o “Reino” que ele veio anunciar.
Em vez das crianças se tornarem como os apóstolos, eles é que devem se tornar como elas!! Porque é preciso ter um coração sem preconceitos para saber como funciona o coração de Deus.
E é preciso lembrar que de graça é que recebemos a bênção, não por nossa idade ou mérito.
( prof.FernandoSM, Rio, fesomor2@gmail.com )
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