Agosto(11-quarta)2010 Comentário à 1ª Leitura
(19ªsemana T.Comum-
Ezequiel 9,1-7; 10,18-22 Marca com uma cruz na testa os que gemem e suspiram
por causa de tantos horrores que se praticam em Jerusalém.
[Evangelho Se ele te ouvir, tu ganharás o teu irmão Mateus Mateus 18,15-20 ]
( prof.FernandoSM, Rio, fesomor2@gmail.com )
Os cap.
Essa “marca” tem o nome da letra Taw do alfabeto hebraico e, desde aqueles tempos, e mesmo em nossos dias, serve como uma assinatura em documentos legais para quem não sabe escrever. Na noite de Páscoa na saída do Egito a marca que indicava a salvação diante do anjo exterminador era feita nas casas dos hebreus. Aqui o sinal é individual, um dos pontos importantes da doutrina de Ezequiel que contribuiu para a interiorização da religião ressaltando a responsabilidade individual.
Os demais versículos do final do cap.10 da leitura de hoje é a cena final dessa passagem da “Glória” de Deus que purifica o Templo e Jerusalém. A visão do profeta acentua de novo a santidade transcendente do Senhor dentro do estilo oriental onde o rei se assenta no trono mais elevado acima de todas as coisas do Universo tanto na terra como acima de todas as hierarquias de anjos e toda sorte de figuras de uma corte celestial.
É admirável perceber no Evangelho (assim como os marcados com o sinal – uma cruz – no texto de Ezequiel) a importância da relação personalizada, tanto para o perdão como para a correção dos membros da comunidade. A “igreja”, seja no sentido de assembléia dos discípulos, seja no sentido do colégio dos apóstolos é um corpo vivo que não se confunde com a massa.
A garantia do perdão, da união, da oração está na presença do Senhor (“eu estarei no meio, onde houver dois ou mais reunidos em meu nome – verso 20). O contexto não permite deduzir que basta pronunciar o nome de Jesus para garantir sua presença. Talvez nunca se tenha falado e tanto como em nossos dias “em nome de Jesus”. Mas, não é a comunidade que garante a presença dele mas o contrário: dele provém a vida da comunidade como explicou no discurso da páscoa: eu sou a videira...
O processo que leva a “ser igreja” começa pelo fato de cada um ter sido marcado (leitura de Ezequiel) com o sinal – que era em forma de cruz. E é marcado quem “chora e lamenta” (Ez 9,4) as “ “tó-ebáh” como diz o termo hebraico = as “abominações” (que incluem tanto as de sentido cultual, ou seja a idolatria contrária à verdadeira adoração a Deus, como as de sentido ético, ou seja tudo que é contra ou desrespeita a pessoa).
Essa “sensibilidade” – que leva perceber e lamentar as “abominações” foi condição para (no texto de Ezequiel) cada um, pessoalmente, ser marcado com aquele sinal da cruz. É essa mesma característica de marca pessoal que faz a construção da comunidade da igreja. Ela se faz por assim dizer, de baixo para cima, pessoa a pessoa, ombro a ombro, como no relato da admoestação ao irmão. Se não funciona esse diálogo então se pede ajuda a mais um ou dois e, progressivamente se chega ao grupo maior da igreja. Assim se constrói a reconciliação e assim se “ganha o irmão” isto é se como membro do mesmo projeto de fé.
Se ainda assim, alguém se afastar (diz o verso 17: “se ele se recusa a ouvir a igreja”) então, como diz uma expressão bem brasileira, “a gente entrega pra Deus”. Pois não nos cabe ser juízes de ninguém. Apenas podemos ser construtores da paz e da fraternidade desde que Ele esteja no meio de nós. “Ganhar o irmão” (verso 15). Um a um.
O resto até pode ser belo espetáculo religioso ou manifestação de massa até transmitida ao vivo pela TV. O que também pode ter grande valor. Desde que ali também esteja cada qual pessoalmente comprometido, isto é, marcado pela cruz. E este sinal foi concedido aos que se indignam pela abominações “que se cometem no seu meio” (Ez 9,4), no seu templo (na sua religião) e na sua cidade (no seu país, na sua terra)...
( prof.FernandoSM, Rio, fesomor2@gmail.com )
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